O vinho laranja está longe de ser uma novidade. Seu surgimento remonta há uns 5 mil anos, quando a bebida em geral era produzida da mesma maneira. Grosso modo, bastava esmagar as uvas, brancas ou tintas, aguardar a fermentação e depois coá-las. Fossem elas brancas, o método dava origem a vinhos entre o laranja e o âmbar. Decisões tomadas há cerca de 200 anos, como a de descartar a casca da uva logo no início do processo de fermentação, entre outras, deram origem aos vinhos que mais consumimos atualmente, felizmente bem mais suaves que os ancestrais – vem da casca aquele inconfundível e pouco aprazível gosto adstringente.
Dito tudo isso, é de se espantar que alguns vinicultores, inclusive brasileiros, se dediquem atualmente a reproduzir o método de lá atrás para comercializar vinhos laranjas.
A onda se deve em boa parte a Josko Gravner e Stanislao “Stanko” Radikon, dois vinicultores da região de Friuli, na Itália, que hoje concentra a produção de vinhos laranjas junto com a Eslovênia. Ao constatarem que a grossa casca de uma uva local, a ribolla gialla, não merecia ser descartada logo de cara, passaram a adotar o processo antigo a partir da década de 90. O primeiro chegou a comprar para a vinificação enormes ânforas de terracota de 200 anos, chamadas de kvevri, produzidas na região da Geórgia, tida como o berço do vinho. É de Gravner um dos laranjas mais cultuados, o Breg, encontrado em São Paulo por quase R$ 500.
A adoção dessa técnica no Brasil está concentrada no Sul do país. Tocado por dois enólogos da Serra Gaúcha e um restaurateur, o projeto Era dos Ventos Peverella arrolha um dos rótulos nacionais mais elogiados, batizado com o nome do negócio. Custa caros R$ 165. Outro laranja brasileiro que merece registro é o Riesling, da Dominio Vicari, situada na Praia do Rosa, em Santa Catarina. Lançado em 2008, está esgotado. É um mercado para lá de restrito. A primeira safra do Era dos Ventos Peverella se resumiu a 280 garrafas, pouco menos da metade da atual. Também fincada no Rio Grande do Sul, a Vinha Unna promete lançar neste mês um vinho laranja, o Riesling Renano. Serão 70 garrafas.
Não é uma bebida para principiantes. Prepare-se para algo marcante, complexo, bem distinto daquele seu chardonnay predileto ou daquele cabernet sauvignon redondo. Alguns críticos renomados o acham intragável. Outros consideram sua oxidação excessiva, fato que se deve à vinificação feita em recipientes sem tampa. “Já bebi alguns vinhos laranjas muito bons, outros nem tanto”, afirma Luiz Henrique Zanini, um dos enólogos da Era dos Ventos Peverella. O sommelier Guilherme Corrêa, que venceu o Concurso Nacional da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) em 2006, é só elogios. “Tem uma complexidade Ímpar, revela desde notas florais, cítricas, até de cogumelos. E une o que o branco e o tinto têm de melhor: a mineralidade do primeiro e a estrutura firme do segundo.” Na hora de harmonizar, o vinho laranja atua como um curinga. Como o branco, cai bem com peixes e crustáceos. Mas também faz boa parceria com carnes intensas, a exemplo de um cordeiro, como boa parte dos tintos que se preze. “E é perfeito para queijos maduros, cogumelos e pratos com nozes”, completa Corrêa.
Há quem o confunda com o chamado vinho natural, já que muitos produtores não gostam de intervir na fermentação e quase não adicionam sulfitos, sais conservantes amplamente utilizados nesse meio. Mas um vinho pode ser laranja mesmo não sendo orgânico ou seguir preceitos biodinâmicos. É o tempo de contato com a casca, o estado dela, se rompida ou pouco rompida, e o material no qual ocorre a maturação, se madeira, pedra ou barro, que garantem sua particularidade. Tamanha alquimia é mais um motivo para degustar essa velha novidade.
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